Crônica de Bernardo Fellipe Seixas
Aos 65 anos, João Antonio, agora chamado de Papai Noel do Algodão Doce, vive uma transformação digna de novela. Após 33 anos colecionando #historias e congestionamentos, e contando piadas em seu #taxi pelas ruas de #florianopolis, ele resolveu ceder aos encantos da praia e das nuvens açucaradas.
Filho de cariocas e nascido na #ilhadesantacatarina, João sempre viveu próximo ao mar, mas nunca se rendeu à vocação de #pescador. A paixão pela boleia nasceu na adolescência, ao volante da Variant azul claro de seu avô, pelas ruas vazias do Rio Tavares no início dos anos 1970. “Dentro do carro o tempo passa rápido, o trânsito sempre tá uma naba*, então o melhor era ouvir os passageiros e ver a natureza”, relata, enquanto alisa a longa e bem cuidada barba, branca como um algodão sem corante.
Após o último carnaval, João anunciou aos familiares que “descansaria” o Voyage, com quase 140 mil km rodados, pela primeira vez em três décadas. O período sabático durou 50 dias. No aniversário do neto, revelou sua intenção de passar os sábados e domingos junto ao mar. “Vendo gente, rindo e fazendo um dinheiro extra para complementar a renda”, explica, com um leve sorriso onde é possível ver seus dentes tortos, porém inteiros.
Filhos, genros e amigos, todos contrários ao projeto, destacaram os desafios do sol, calor e turistas mal educados. “Avisei que estava informando-os, não pedindo permissão”, pontua. Desde que ficou viúvo, há 11 meses, ninguém mais teve o poder de veto na vida de João.
Preparando-se para a temporada, o #manezinho da ilha fugiu dos congestionamentos, mas se anima ao ver uma fila. A dos seus clientes. No último domingo, na praia da Barra da Lagoa, vendeu todo o estoque, conquistando o apelido de Papai Noel do Algodão Doce.
Perguntei se o dinheiro do final de semana compensou o esforço. “Quase 300 pila. É pouco, mas a gente se diverte”, reflete o agora comerciante ambulante.
Se a jornada de João será longa como a anterior, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: a cada venda, uma página engraçada e açucarada se escreve na história desse doce personagem das praias de #floripa.
(*Naba: do dicionário manezês, ruim, situação difícil.)